sábado, 12 de fevereiro de 2011

Copyright ou Copyleft? Eis a questão!

Após alguns meses afastado, dedicando-me a projetos pessoais e profissionais, volto a escrever aqui, mais um texto que considero necessário neste momento. Uma discussão acalorada a respeito da lei de direitos autorais no Brasil, que na visão de vários blogueiros e críticos do assunto sofreu um revés com a nomeação da ministra Ana de Hollanda, que logo após assumir a pasta, decidiu retirar do site do Ministério da Cultura a licença Creative Commons e voltou-se à favos do ECAD (Escritório Central de Arrecadação de Distribuição) que na teoria (só na teoria) defende os direitos autorais de artistas.

Nessa discussão toda, entraram nomes como o controverso e pouco esclarecedor Caetano Veloso, defendendo o modelo ECAD e condenando o compartilhamento digital.

Não se ligaram ainda, que a Internet é um novo meio de transmissão cultural e que ferramentas como Youtube, Twitter, Facebook, Blogger, entre outras, vieram para disseminar uma infinidade de ideias e conceitos que não tem (ou pelo menos não tinham) lugar na mídia tradicional. Com elas, é possível que um anônimo torne-se celebridade da noite para o dia, simplesmente mostrando seu talento em um vídeo, em um texto, em uma música...

A mídia tradicional, que agencia e promove talentos criados com a força do dinheiro, com programas ridículos como Ídolos vem perdendo de goleada para talentos natos como o jovem Jean "Walker", um taxista de Belo Horizonte que despontou no Youtube, cantando identicamente a Michael Jackson. Vejam o vídeo aqui.

Pessoas que não contam (ou pelo menos não contavam) com a força do rádio, do jornal ou da TV para demonstrarem seus talentos, agora são conhecidos e reconhecidos pelo seu potencial e não pelo marketing criado ao redor deles, como o objetivo único de gerar dinheiro para um bando de empresários sanguessugas.

Recentemente, o cineasta Francis F. Copolla emitiu um parecer a respeito da onda de compartilhamento de músicas, vídeos e textos pela Internet com o argumento claro e justo de que essa ideia de Direito Autoral é uma coisa relativamente recente. Até poucos séculos atrás, artistas criavam e se exibiam basicamente pelo amor à arte e em busca de reconhecimento do público, que em troca. Pintores como Leonardo Da Vinci e Boticcelli eram sustentados por famílias nobres, que incentivavam a produção de belíssimas obras de arte, simplesmente permitindo que eles tivessem acesso a todos os recursos necessários para tal e hoje, podemos apreciar suas obras, expostas em museus e através de livros ou mesmo pela Internet.
Do mesmo modo, Copolla acredita que os artistas do século XXI devam criar arte, não pelos benefícios financeiros, mas pelo objetivo de deixarem à humanidade um legado que se perpetue em nossas culturas e faça parte de nosso futuro. Somente assim, nossa arte será livre da exploração de empresários inescrupulosos que visam o lucro e deixam o artista em segundo plano, tendo de sobreviver às custas de direitos autorais arrecadados de maneira pouco transparente e distribuidos de modo igualmente duvidoso.

A bem sucedida experiência da Apple com as lojas eletrônicas de música, cinema e recentemente de programas de televisão, mostrou ao mundo, que os argumentos da indústria cultural estavam errados, ao sinalizar que ninguém compraria uma música ou um filme pela Internet. Hoje, a iTunes Store é a maior loja de mídia do mundo, vendendo músicas a partir de US$ 0,99, deixando à cargo do comprador a escolha de quais músicas valem a pena serem adquiridas e não empurrando a ele, um pacote "encaixotado" em uma mídia física, como um CD ou DVD, em que para levar aquela música que ele deseja, tem que levar outras tantas que não são tão boas. Isso despertou na indústria cultural uma corrida voraz à Internet, levando a RIAA (O ECAD norte americano) a introduzir limitações rigorosas em sites como o Youtube, barrando qualquer conteúdo com copyright. Dessa forma, um vídeo que possua uma trilha musical com copyright, tem o seu áudio cortado diretamente pelo Youtube. Esse é o tipo de política mesquinha e perversa da RIAA que não quer largar o osso de maneira alguma. Vai continuar tentando barrar de todas as maneiras possíveis a inevitável migração cultural do meio físico para o meio digital, pela simples recusa de ingressar nesse meio como mais um competidor e não como a dona de todo o material cultural disponível.

Minha previsão é que o compartilhamento e a flexibilização dos direitos autorais diretamente pelos músicos permitam que somente os bons artistas permaneçam no mercado cultural, excluindo esses engodos do show bizz criados pela mídia de massa para nos levar a consumir algo que não nos traz o mesmo benefício.

Aguardamos para ver o desfecho dessa história em breve. Algo me diz que essa década será a década da abertura do mercado para o irrestrito, acessível a todos. Somente assim, o mundo será um pouco menos fake do que é hoje!